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terça-feira, 22 de setembro de 2015
Papa aos jovens: “não tenhais medo da esperança, não tenhais medo do futuro”
Havana, 21 de Setembro de 2015
Queridos amigos!
Sinto uma grande alegria em poder estar convosco, precisamente neste Centro Cultural muito significativo na história de Cuba. Dou graças a Deus por me ter concedido a oportunidade de ter este encontro com tantos jovens que, através do seu trabalho, estudo e preparação, estão sonhando, e tornando já realidade também, o amanhã de Cuba.
Agradeço ao Leonardo as suas palavras de saudação, especialmente porque, podendo ter falado de muitas outras coisas, certamente importantes e concretas como as dificuldades, os medos, as dúvidas – tão reais e humanas –, preferiu falar-nos de esperança, dos sonhos e aspirações que estão fortemente impressos no coração dos jovens cubanos, independentemente das suas diferenças de formação, cultura, crença ou ideias. Obrigado, Leonardo, porque eu também, quando vos vejo, a primeira coisa que me vem à mente e ao coração é a palavra esperança. Não posso imaginar um jovem que não se mova, que esteja bloqueado, que não tenha sonhos nem ideais, que não aspire por algo mais.
Mas, qual é a esperança dum jovem cubano neste momento da história? Nem mais nem menos que a esperança de qualquer outro jovem em qualquer parte do mundo. Porque a esperança fala-nos duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. Todavia, isto comporta um risco. Supõe estar dispostos a não se deixar seduzir pelo que é passageiro e caduco, por falsas promessas de felicidade vazia, de prazer imediato e egoísta, duma vida medíocre, centrada em si mesmo e que, no seu rasto, só deixa tristeza e amargura no coração. Não, a esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Eu perguntaria a cada um de vós: O que é que move a tua vida? O que há no teu coração, onde se fixam as tuas aspirações? Estás sempre disposto a arriscar por algo maior?
Talvez possais dizer-me: «Sim, Padre, a atracção desses ideais é grande. Sinto a sua atracção, a sua beleza, o brilho da sua luz na minha alma; mas, ao mesmo tempo, a realidade da minha fragilidade e das minhas poucas forças é muito pesada para que me consiga decidir a trilhar o caminho da esperança. A meta é muito alta, e as minhas forças são poucas. O melhor é contentar-me com pouco, com coisas talvez menores mas mais realistas, mais dentro das minhas possibilidades». Compreendo esta reacção; é normal sentir o peso daquilo que é árduo e difícil; mas cuidado para não cair na tentação da decepção, que paralisa a inteligência e a vontade, nem ceder à resignação, que é um pessimismo radical perante toda a possibilidade de alcançar o sonho. No fim, estas atitudes acabam ou numa fuga da realidade para paraísos artificiais ou fechando-nos no egoísmo pessoal, numa espécie de cinismo, que não quer escutar o grito de justiça, de verdade e de humanidade que se eleva ao nosso redor e dentro de nós.
Que havemos de fazer então? Como encontrar caminhos de esperança na situação em que vivemos? Como fazer para que estes sonhos de plenitude, de vida autêntica, de justiça e verdade sejam uma realidade na nossa vida pessoal, no nosso país e no mundo? Penso que existem três ideias que podem ser úteis para manter viva a esperança.
A esperança, um caminho feito de memória e discernimento. A esperança é a virtude daquele que está a caminho e se dirige para algum lugar. Assim, não se trata de um simples caminhar pelo prazer de caminhar, mas tem um fim, uma meta, que é o que lhe dá sentido e ilumina o caminho. Ao mesmo tempo, a esperança alimenta-se da memória, abrange com o seu olhar não só o futuro, mas também o passado e o presente. Para caminhar na vida, além de saber para onde queremos ir, é importante saber também quem somos e donde vimos. Uma pessoa ou um povo, que não tem memória e cancela o seu passado, corre o risco de perder a sua identidade e arruinar o seu futuro. Por isso, é necessária a memória daquilo que somos, daquilo que constitui o nosso património espiritual e moral. Creio que esta é a experiência e a lição daquele grande cubano que foi o Padre Félix Varela. E é preciso também o discernimento, porque é essencial abrir-se à realidade e saber lê-la sem medo nem preconceitos. Não servem as leituras parciais ou ideológicas, que deformam a realidade para caber nos nossos pequenos esquemas preconcebidos, provocando sempre desilusão e desespero. Discernimento e memória, porque o discernimento não é cego, mas realiza-se sobre a base de sólidos critérios éticos, morais, que ajudam a discernir o que é bom e justo.
A esperança, um caminho feito em companhia. Diz um provérbio africano: «Se quiseres ir depressa, vai sozinho; se quiseres ir longe, vai acompanhado». O isolamento ou o fechamento em si mesmo nunca gera esperança; pelo contrário, a proximidade e o encontro com o outro, sim. Sozinhos, não chegamos a lado nenhum. E, com a exclusão, não se constrói um futuro para ninguém, nem sequer para si próprio. Um caminho de esperança exige uma cultura do encontro, do diálogo, que supere os contrastes e o confronto estéril. Para isso, é fundamental considerar as diferenças no modo de pensar, não como um risco, mas como uma riqueza e um factor de crescimento. O mundo precisa desta cultura do encontro, precisa de jovens que queiram conhecer-se, que queiram amar-se, que queiram caminhar juntos e construir um país como o sonhava José Martí: «Com todos e para o bem de todos».
A esperança, um caminho solidário. A cultura do encontro deve levar, naturalmente, a uma cultura da solidariedade. Gostei muito do que disse o Leonardo ao princípio, quando falou da solidariedade como força que ajuda a superar qualquer obstáculo. Com efeito, se não houver solidariedade, não há futuro para nenhum país. Acima de qualquer outra consideração ou interesse, tem de estar a preocupação concreta e real pelo ser humano, que tanto pode ser meu amigo, meu companheiro, como alguém que pensa diferente, que tem as suas ideias, mas que é tão humano e tão cubano como eu mesmo. Não basta a simples tolerância; é preciso ir mais longe passando duma atitude suspeitosa e defensiva para outra feita de acolhimento, colaboração, serviço concreto e ajuda eficaz. Não tenhais medo da solidariedade, do serviço, de dar a mão ao outro, para que ninguém fique fora do caminho.
Este caminho da vida é iluminado por uma esperança mais alta: a que nos vem da fé em Cristo. Ele fez-Se nosso companheiro de viagem, e não só nos anima, mas acompanha-nos, permanece ao nosso lado e estende-nos a sua mão de amigo. Ele, o Filho de Deus, quis fazer-Se um como nós, para percorrer também o nosso caminho. A fé na sua presença, no seu amor e amizade acende e ilumina todas as nossas esperanças e sonhos. Com Ele, aprendemos a discernir a realidade, a viver o encontro, a servir os outros e a caminhar na solidariedade.
Queridos jovens cubanos, se o próprio Deus entrou na nossa história e Se fez homem em Jesus, Se carregou aos seus ombros a nossa fraqueza e pecado, não tenhais medo da esperança, não temais medo do futuro, porque Deus aposta em vós, crê em vós, espera em vós.
Queridos amigos, obrigado por este encontro. Que a esperança em Cristo, vosso amigo, vos guie sempre na vossa vida. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Que o Senhor vos abençoe!
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