Um poeta romântico alemão Novalis escreveu: “Uma criança é um amor tornado visível”. Do Menino nascido já dois mil anos se pode falar de modo superlativo. Cada Natal comemoramos o seu nascimento. No Menino de Belém se fez visível o amor de Deus por nós. “Quem será este Menino para mim? Quem sou eu para ele?”
A primeira leitura, Isaias 7, 10-14, nos apresenta um acontecimento decisivo para a história de Israel e da humanidade. No ano 735 antes de Cristo era rei de Judá um certo Acaz, descendente da casa de Davi. Esse rei se abandonava à idolatria. O profeta Isaias o reprovou em nome do Senhor, e o desafiou a pedir a Deus um sinal que lhe seria dado. O rei se recusou. Isaias pronunciou a profecia que hoje escutamos anunciando o nascimento do Emanuel, o Deus conosco.Começava assim para Israel uma espera mais consciente do Messias.
Na segunda leitura, Romanos 1, 1-7, a carta mais importante de São Paulo, o apóstolo coloca a si mesmo no grande desígnio de Deus, apresentando-se como “apóstolo por vocação, isto é chamado pelo Senhor Jesus com a missão de “anunciar o Evangelho” a todos, também aos cristãos de Roma, que ele chama “amados por Deus”.
Assim o profeta Isaias e o evangelista Mateus apresentam: um menino, dom de Deus ao mundo, associado às vicissitudes humanas, colocado nas genealogias dos homens, faz parte da estirpe do rei Davi, misturado com a nossa história. O sinal dado pelo profeta: um menino nascerá em circunstâncias excepcionais, fora de toda lei da natureza.
Esse oráculo realizou-se em Belém. Sobre a descendência histórica de Jesus, em poucas palavras, dizemos que descendente de Davi na realidade é José, pai adotivo de Jesus. José lhe assegura o estatuto legal, porque o reconhece como filho, dá-lhe o nome. Assim Jesus é descendente de Davi. Mas atrás da paternidade putativa de José, se esconde o mistério, a verdadeira natureza de Jesus, filho de Maria, filho de Deus.
Há um outro aspecto singular: seja o profeta Isaias bem como o evangelista Mateus mostram os nomes tão diversos atribuídos a esse menino. Diz Isaias: “Será chamado Emanuel”; Diz Mateus: “Será chamado Jesus”. Naqueles tempos dava-se muita importância ao significado dos nomes de pessoa. Procuravam-se nomes cheios de alusões. Emanuel e Jesus eram nomes plenos de significado. Emanuel quer dizer: “Deus conosco”. Jesus significa: “Deus salva, Deus é salvação”. Através de Cristo se revela como Pai que ama os seus filhos e os quer salvos junto de si.
O percurso terreno do Verbo encarnado se concluiu, sabemos, com a morte, e ascensão de Jesus aos céus. Mas sua presença como “Deus conosco” no meio de nós tem um valor extraordinário.
Antes de tudo o Senhor vive entre nós com uma presença espiritual. Nós o descobrimos ainda mais presente no profundo da consciência. Sabemos também que Jesus o disse aos discípulos: “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles”. Isso vale também para nós, para as nossas reuniões, as nossas famílias.
O Senhor se faz presente com um máximo de presença na Missa: convoca-nos propositalmente para que o possamos encontrar. Encontramo-lo nas suas palavras, também naquelas do Evangelho: “O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão”. Nós o encontramos com uma presença especial, mística, na eucaristia, na comunhão.
O Senhor nos convoca à missa, depois nos envia, nos manda para testemunhá-lo no mundo. A missa constitui assim como o coração da Igreja. O envio é o momento em que levamos Cristo aos outros. Somos enviados em missão.
E então encontramos Jesus nos outros. Recordamos a parábola grandiosa do juízo final: “Vinde benditos, porque tive fome, sede, e me haveis dado de comer, de beber”. A resposta é surpreende para os justos: “Todas as vezes que o fizestes aos mais pequenos dos meus irmãos, a mim o fizestes”. Deus está conosco também em nossas ações.
Assim podemos concluir e compreender quem é esse menino que vem encontrar-nos neste Natal. E será de vários modos. No silêncio dos nossos corações ele dirá porque veio. Que todos tenham um Feliz Natal!
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
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