Jeanne Marie Rendu nasceu a 09 de setembro de 1786, em Confort, uma localidade de Savoie (França). Os pais, pequenos proprietários montanheses de vida simples, gozavam de um certo conforto e de uma real estima em toda a região. Jeanne Marie tinha três anos quando estourou a Revolução na França. A partir de 1790, quando o juramento à Constituição Civil foi imposto ao clero, a casa da família Rendu tornou-se um refúgio para os padres que resistiam à situação. Numa atmosfera de fé sólida, exposta sem cessar ao perigo da denúncia, ela fez sua primeira comunhão, no sótão de sua casa, à luz de uma vela.
A morte de seu pai e de uma irmãzinha mais nova, de apenas quatro meses, abalou toda a família. Jeanne Marie tinha apenas dez anos e ocupava-se da responsabilidade de ajudar sua mãe, especialmente no cuidado de suas irmãs menores. Tinha exatamente quinze anos, quando a senhora Rendu, preocupada com a educação de sua filha mais velha, enviou-a para um pensionato em Paris. A menina descobriu, então, o hospital mantido pelas Filhas da Caridade e não teve outro desejo senão o de unir-se a elas. A 25 de maio de 1802, em resposta ao chamado de Deus, chegou à Casa-Mãe das Filhas da Caridade, para dar início à sua formação. A vida austera do Seminário (Noviciado), a falta de atividade, de ar e de espaço, bem como a sua delicada sensibilidade, alteraram a saúde da jovem Irmã que, com o apoio do seu padrinho, o Padre Emery, Superior Geral dos Sulpicianos, foi enviada à casa das Irmãs do bairro Mouffetard, para dedicar-se inteiramente ao serviço dos Pobres.
Tendo terminado o Seminário, Jeanne Marie recebeu o nome de Irmã Rosalie. Passou mais de 50 anos no bairro Mouffetard, talvez o mais miserável de Paris, permanecendo ali até o fim de sua vida. Feliz na fidelidade à sua vocação, gostava de repetir: Uma Filha da Caridade é como um marco sobre o qual todos os que estão cansados têm o direito de depositar seus fardos. Em 1815, com apenas 29 anos, foi nomeada Irmã Servente de sua Comunidade, ocupando-se do bom andamento de uma escola, sem esquecer, contudo, a inconfundível prioridade da visita domiciliar aos Pobres, serviço que desempenhou durante 41 anos, com zelo incansável e generosa dedicação, até sua morte. Todos os dias, Irmã Rosalie percorria as ruas e becos, com seu rosário na mão, pesado cesto no braço, passo apressado. A Apóstola do Bairro Mouffetard conhecia cada rua, cada família, cada Pobre. Sua atuação entre os mais sofridos brotava de convicções profundas e conseguia apontar caminhos novos e eficazes na superação das situações mais desesperadoras. Eis o que disse, certa vez:
Há tantas maneiras de fazer a caridade. A pequena ajuda em mantimentos ou em dinheiro que damos aos Pobres não pode durar muito tempo. É preciso visar um bem mais completo, mais duradouro: estudar suas aptidões, conhecer seu grau de instrução e conseguir-lhes trabalho, a fim de ajudá-los a sair de sua difícil situação.
Irmã Rosalie acompanhava pessoalmente jovens estudantes, especialmente de Direito e de Medicina, que estavam à procura de uma oportunidade para fazer uma boa obra ou desejavam aprender como tornar efetiva a caridade para com os últimos. Ela ensinava a visitar os Pobres em domicílio, recomendando-lhes paciência, compreensão e cortesia: Amem os Pobres, não os censurem. Lembrem-se que o Pobre é muito mais sensível ao bom acolhimento do que aos socorros. Assim, Irmã Rosalie despertou e formou para a Caridade vocações leigas e presbiterais, que aprenderam com ela a considerar os Pobres como irmãos. A Conferência da Caridade, fundada por Antônio Frederico Ozanam, a 23 de abril de 1833, passou a ser, em fevereiro de 1834, a Conferência de São Vicente de Paulo, que, desde então, se tornou o mestre e o modelo daqueles jovens. As conferências se multiplicaram rapidamente em Paris e nas províncias. Ozanam, que encontrou o caminho dos Pobres graças à Irmã Rosalie, sonhava unir o mundo inteiro numa rede de caridade. Indo à casa dos Pobres, falando com eles, os jovens estudantes descobriam que uma das principais causas da miséria, a primeira talvez, era a injustiça social.
Durante a Revolução de 1848, Irmã Rosalie sofreu com seu povo. Tentava acalmá-lo com palavras de paz e não hesitava em enfrentar barricadas para socorrer os combatentes feridos de qualquer grupo que fossem.
Sorridente e atenta, Rosalie servia de traço de união entre pequenos e grandes, fracos e poderosos. Até o fim da sua vida, embora progressivamente cega, ela continuou acolhendo todos os que o Senhor colocava em seu caminho e, a 07 de fevereiro de 1856, após uma curta doença, é o Senhor da Caridade quem acolheu sua serva fiel. Sua mãe, a senhora Rendu, havia morrido três dias antes, mas esta notícia jamais chegou à Rosalie. Sobre o seu túmulo, sempre cheio de flores, uma cruz traz até hoje estas palavras: À Irmã Rosalie, seus amigos reconhecidos, os pobres e os ricos.
Declarando-a modelo para os cristãos, a Igreja propõe-na como um testemunho de que a santidade pode ser vivida concretamente em meio aos desafios do nosso tempo. Numa época de tensões e grandes sofrimentos, na França do século XIX, Irmã Rosalie Rendu, exemplo de mulher forte e destemida, foi verdadeiro dom de Deus para os Pobres e marginalizados. Dessa forma, continua iluminando o caminho da Família Vicentina e impulsionando-a a revitalizar sua missão de serviço aos que sofrem.
Beatificação: 09 de novembro de 2003, por João Paulo II
Memória Litúrgica: 07 de fevereiro
4 comentários:
Um belo exemplo de pessoa a ser seguido!
Hino a Irmã Rosalie Rendu (letra e melodia Clébio Rocha)
Nos mais pobres vos enxergastes
a miséria a fome e a dor
E com isso tu se consagrastes
Na missão de viver um amor!
...
O passado e o presente da Família vicentina é exemplo de extrema dedicação aos pobres e
temência a Deus.
O passado e o presente da Família vicentina é exemplo de extrema dedicação aos pobres e
temência a Deus.
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