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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Reflexão por ocasião do Natal de Jesus

 
Irmãos,
Paz e Alegria para todos Vocês!
Dom Helder Camara nos oferece uma pequena meditação:
“ANUNCIARAM UM PRESÉPIO VIVO
Uma Jovem linda fazia as vezes de Nossa Senhora... Um Senhor, meio idoso, fazia o papel de São José... Uma Criança loura de olhos azuis, era o próprio Menino Deus... Presépio vivo ou quadro teatral? ... Quem quiser Presépio vivo entre em qualquer mocambo dos Alagados, destes onde a Família apanha comida nas latas de lixo e vive sem luz, sem água, sem esgoto, sem voz e sem vez... Há sempre Criança nova dormindo em algum caixão de querosene, ameaçada de ser roída pelos ratos, ou de ter a cabeça devorada pelos porcos... Nome da Criança? Nome aparente: Zé, Amaro ou Severino... Nome de verdade: Jesus Cristo!”
Este texto nos convida a alguns instantes silenciosos. . . O Criador e Pai prova – pelo envio de seu Filho Jesus – que a Humanidade tem o direito feliz de ser humana... Que o Espírito do Homem de Nazaré mova todos os Corações para construirmos um Mundo respirável...
Mais de 2000 anos se passaram... 
A Humanidade celebra, mais uma vez, o feliz nascimento de Jesus. Esta Humanidade se tornou, após o primeiro natal – sempre mais – humana? Os dias de dezembro são, cada ano de novo, uma oportunidade para refletirmos um pouco. 
O Criador – Amor pleno – faz a mulher e o homem viverem em um belo paraíso, lugar certamente bem humano, pois repleto de paz, felicidade e bem-estar. Mas, o mal, o negativo, o egoísmo desviam o curso dos sonhos do Pai. As filhas e os filhos, na prática menos irmãs e menos irmãos, mergulham em dor e sofrimento. Os Profetas gritam, denunciando o que está errado, e anunciando o que é bom e belo. Nasce Jesus, trazendo vida, e “vida em abundância”; vem Jesus para a Humanidade se tornar novamente humana. 
E, neste final do ano 2012? Todas e todos vivem, realmente, vida humana? As Instituições – de todos os matizes – permitem, de verdade, vida humana? Não se precisa de muito tempo para descobrir que a realidade nua e crua deixa muito a desejar. 
Escravidões individuais e coletivas, em numerosas formas, freiam a possibilidade de a vida ser, cada vez mais, humana. Vegetar não é viver humanamente. Encontrar-se na “miséria que sub-humaniza” e no “egoísmo que desumaniza” – expressões de Helder Camara – não é viver humanamente. Estar rodeado por cercas que sufocam não tem muito a ver com vida humana. Por isso, Dom Pedro Casaldáliga sentencia: “Malditas todas as cercas que nos impedem de viver e amar!”. Vez por quando tem-se a impressão que temos pós-graduação em construir cercas! Cercas em torno de nós mesmos, cercas ao redor dos outros, cercas nas sociedades, cercas nas igrejas. Deste modo não se dá continuidade à vida que Jesus desejava trazer à terra no primeiro natal. 

A Humanidade precisa de libertação. As sociedades, as igrejas, todos nós – também Você e eu, Irmãs e Irmãos, - necessitamos de libertação. Libertação de tudo o que faz a vida, tanto individual como em comum, não ser a vida que o Criador sonha, nem parecer com a vida que Jesus veio anunciar e trazer. 
Já se perguntou: “Por ocasião do Carnaval, as pessoas põem uma máscara ou tiram as máscaras?”. Da mesma maneira pode-se interrogar: “A festa do natal é festa de vida e trás mais vida, ou dificulta e até sufoca a vida?”. Certa vez recebi, de um amigo, uma folha de papel com o título “Ladainha de Sofrimentos da América Latina”. 
Ei-la: pobreza crescente, injustiça, opressão, miséria, desonestidade, exclusão, hipocrisia, corrupção, fome, insegurança, violência, prostituição, impunidade, discriminação, migração, crise de cultura, polarização, guerra, tráfico de drogas, perda de valores, morte do meio ambiente, doença. Parece uma ladainha sem fim! 
Cristãos e pessoas de boa vontade estamos de acordo que todas essas realidades negativas não são, e nunca serão, conforme o sonho daquele Criador que ofereceu à mulher e ao homem um paraíso. É curioso que todo coração humano – o da pessoa mais idosa que nesta hora bate em nosso mundo e o da criancinha que acaba de nascer – aspira felicidade e paz. Mesmo assim, a Ladainha não é inverídica, mas, realidade dolorosa. 
Jesus de Nazaré mostra mediante seu agir e seu falar, quem é o seu Pai, e testemunha, deste modo, que esse Pai é Amor. O teólogo Banning que dedicou toda sua vida à procura do sentido da existência humana e à busca de respostas às perguntas “Por que vivemos na terra?”, “De onde viemos?” e “Para onde iremos?” recebeu, já perto de sua morte, a visita de um discípulo. E este perguntou: “Mestre, conte-me o que descobriu na sua longa caminhada e fale-me do sentido da vida”. Banning respondeu: “Você pode escrevê-lo na unha de seu polegar: é o Amor, nada mais que o Amor”. 
Observando a quantidade e o tamanho dos sofrimentos que atingem a população da América Latina, só se pode constatar que a fraqueza humana é quase sem limites. 
Ouvimos a advertência “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados” (Lc 6, 36-37). Não é preciso jogar pedras. Não nos compete sentenciar irmãs e irmãos. Muito melhor, e também muito mais eficaz, será tirar a trave do próprio olho do que reparar no cisco que entrou no olho alheio (Cf. Mt 7,3). Repetir a Ladainha sempre de novo, como se faz com outras Ladainhas, também não leva a qualquer solução. 
Sem sombra de dúvida, o combate aos muitos males pode e deve ser travado através da tentativa de sermos amorosos como o Pai de Jesus e nosso Pai é amoroso. Isto pode acontecer, olhando com frequência a unha do nosso polegar, e ao mesmo tempo, procurando mergulhar sempre mais naquilo que a unha pode recordar. Certamente a Ladainha não se acabará tão cedo, mas, talvez, ela se torne mais leve. Já é algo ganho! 
Irmãos, como seria bom se Vocês e eu tivéssemos êxito nessa tarefa, ao menos um pouco. Como seria bom se Vocês e eu tornássemos realidade este sonho, ao menos em parte. Merecem palavras de parabéns, agradecimento e incentivo todas e todos que labutam e se doam para que nossa América Latina fique um habitat melhor, mais humano e mais respirável para toda a população, sem exceção de ninguém. 
Suponho que todas e todos que aceitamos o convite para participar desta Confraternização de Natal, temos um bom coração. Pois, Natal é festa de corações! Atenção: corações do tipo dos de Jesus, Maria e José de Nazaré, de Vicente de Paulo e Luísa de Marillac, de Helder Camara. Corações que não precisam se abrir, porque estão abertos, continuamente! Abertos para quê? 
Para se dedicar, para se doar, para se sacrificar caso necessário, para amar. Para escutar, compreender e respeitar. Para orientar, consolar e perdoar. Para enxugar lágrimas. Para chorar com os que estão tristes. Para se alegrar com os felizes. Para saciar os famintos. Para vestir os nus. Para abrigar os exilados. Para visitar os enfermos. Para construir a paz. Para fazer acontecer a justiça. Para defender os fracos. Para proteger e promover a vida. Para libertar os presos. Para enterrar os mortos. 
Não basta, por ocasião do Natal, nossa cidade ser iluminada por milhões de lâmpadas e lampadinhas, brancas e coloridas. É preciso que o dia-a-dia das mulheres e dos homens seja iluminado por corações amorosos e generosos. Aquelas enfeitam nossas casas, ruas e praças. Estes embelezam a existência de filhas e filhos de Deus! 
Ao invés de observarmos, emocionados, os diversos Meninos Jesus em gesso ou madeira nos presépios, nossos olhos procurem enxergar o Deus Menino naquelas e naqueles que, de uma forma ou de outra, sofrem, às vezes tão pertinho de nós ... A figura artificial poderá nos agradar. O ser humano, desfigurado pelo peso de alguma dor, poderá acionar nosso coração, no sentido de, se não sanar, ao menos tentar aliviar o sofrimento da irmã ou do irmão. 
Podemos acolher, no Natal deste ano, duas sugestões de Dom Helder? A primeira: “Temos que viver e fazer viver o Evangelho e as lições fundamentais de Cristo”. A segunda: “Não basta esforçar-nos para levar o Brasil a conhecer mais, ter mais, produzir mais; ele precisa, com urgência, é de ser mais”. Penso que são tarefas boas e bonitas para o Novo Ano que está à porta. 
Que o Espírito de Jesus de Nazaré mova nossos corações para construirmos um Mundo verdadeiramente humano. Formulo votos de um bom natal para todas e para todos que tiveram a gentileza de me escutar, relembrando o que expressaram os Bispos do Brasil há 49 anos, em 1963, no final da segunda sessão do Concílio Vaticano II: 
Que possamos “ficar mais perto de Deus e morar numa terra mais habitável”. 
Feliz Natal! 
Bom Ano Novo! 
Recife, 15 de dezembro de 2012

Pe.João pubben

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