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sábado, 7 de maio de 2011

VI Interprovincial do Serviço de Animação Vocacional Vicentino

Belo Horizonte, 04 a 08 de Maio de 2011  
Primeiro dia, 04 de Maio, quarta-feira
Organizado pela Província de Belo Horizonte das Filhas da Caridade, o VI Encontro Interprovincial do Serviço de Animação Vocacional Vicentino (SAVV) começou na noite do dia 04, quarta-feira, com uma animada dinâmica de apresentação, inspirada no “trem mineiro”, significativo símbolo de nossa Minas Gerais. Após a apresentação, durante a qual todos os participantes receberam pequenas velas, houve um momento de espiritualidade mariana, com a entrada solene da imagem da Virgo Potens, em cujos pés depositamos nossas lâmpadas e nossas preces. Em seguida, houve a palavra de acolhida da Visitadora da Província anfitriã, Ir. Maria das Graças Alves, F.C.
Eram cerca de 65 participantes, reunidos na Casa São José, dos Padres Redentoristas, em Belo Horizonte-MG, do dia 04 ao dia 08 de maio de 2011, vindos de todas as províncias do Brasil: Filhas da Caridade das Províncias da Amazônia, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte; e Padres da Missão das Províncias de Fortaleza, Curitiba e Rio de Janeiro.
Segundo dia, 05 de Maio, quinta-feira
O segundo dia começou, bem cedo, com a Celebração Eucarística, presidida pelo Padre Geraldo Ferreira Barbosa, C.M., que, à luz da Palavra de Deus, fez a memória dos outros cinco Interprovinciais.
O primeiro assessor de nosso encontro foi o Padre Jaldemir Vitório, S.J., que falou sobre “Animação Vocacional e Mudanças Culturais”, conforme o artigo que acompanha este relatório.
Introduzindo seu tema, disse que precisamos fazer uma leitura da fé da realidade e, neste sentido, perceber os sinais dos tempos em todos os acontecimentos, para se perceber qual a vontade de Deus nos fatos da história. Não se pode colocar dificuldades prévias ao processo vocacional, especialmente desconsiderando a capacidade dos jovens de serem despertados e de se disporem para a consagração.
Outro fato comentado logo de início foi a “descoberta” do Concílio Vaticano II de que não existem duas histórias, uma sagrada e outra profana, mas apenas uma, a história dos homens penetrada por Deus e feita espaço de salvação. Por isso deve-se ter o coração aberto para acolher os jovens como eles nos chegam. Não se pode querer vocacionados de outro planeta, com outra conformação existencial, ou com ideias altíssimos. Os vocacionados que nos aparecem devem ser acolhidos em sua concretude e em sua realidade existencial, pessoal, familiar e social, sem querer que tragam de casa os arquétipos ideais da Vida Consagrada.










Padre Vitório chamou também a atenção para a mudança no estilo da Vida Consagrada (VC), ou seja, a mudança do modelo de consagração. As últimas décadas não colocaram a VC fora de moda, ou a relegaram a segundo plano eclesial e social. Não. A VC, que passa por uma mudança de modelo, por uma reforma de estruturas, precisa se colocar no mundo de hoje a partir da leitura dos sinais dos tempos e chamando os jovens para este novo momento. Isso, claro, exige mudanças estruturais e mentais para a abertura necessária da VC e para a dilatação de sua capacidade de acolhida do mundo e dos jovens.
Outro aspecto é o descolamento da VC em relação aos pobres nos tempos atuais. A VC que surgiu na Modernidade nasceu em função do serviço aos pobres. Todos os Fundadores da modernidade tiveram esta intuição porque esta é a intuição mais legítima do Evangelho. No entanto, no momento presente, o afastamento dos pobres deve questionar nosso modelo de vida e nossas próprias convicções e opções vocacionais. O serviço aos pobres se impõe, hoje, como critério vocacional e como objetivo de todo nosso empenho humano, comunitário e financeiro. Não se pode admitir consagrados que vivem para o enriquecimento de suas instituições e para o cuidado único e exclusivo da preservação e autossustentação de seus bens. Tirar os pobres de nosso horizonte de reflexão e de nosso empenho missionário vai enfraquecendo o carisma na Igreja e tornando infértil nossa vida e consagração.
Serviço aos pobres não pode ser apenas forma de manter filantropia, pois, neste sentido, tem-se visto muito financiamento de trabalhos com os pobres. A VC começa a pagar outras pessoas para trabalharem com os pobres. O serviço aos pobres é, para a VC, espaço de doação total de sua existência. E é para os consagrados o lugar de serviço e de consagração missionária.

A própria história mostra o dinamismo missionário da VC. Iniciada com o monaquismo, eremítico e cenobítico, viu o surgimento dos mendicantes como forma de renovação diante de um mundo que mudava no fim da Idade Média. O advento das grandes navegações e a descoberta de novos povos provocou também na VC uma outra renovação. Fundadores surgem propondo à Igreja e ao mundo um novo estilo de VC, agora mais arejada e mais dinâmica, liberta dos penduricalhos medievais e das grades monásticas às quais todos acabaram presos com o passar dos tempos. Os novos desafios dos tempos trouxeram novas congregações e novos modos de vida consagrada, todas elas atentas aos sinais dos tempos e à realidade concreta do mundo, para o qual o Espírito suscita profetas e missionários.
Diante do advento dos novos movimentos e de novas comunidades de aliança e de vida, não se pode achar que a VC “tradicional” está sendo substituída por estas novas expressões de VC. O surgimento de novas formas de vida não dispensa as demais. Ao contrário, traz novos elementos em vista de uma renovação de toda a VC. A VC “tradicional” jamais será substituída, pois nasceu diante de necessidades urgentes da Igreja e do mundo e, especificamente, por causa da realidade gritante dos pobres de ontem e de hoje.
VC é vivência comunitária da fé para o serviço dos irmãos. Por isso deve ser redobrada a atenção ao acompanhamento vocacional, para se evitar o ingresso de pessoas doentes e problemáticas nas comunidades. Não se pode colocar em risco todo um projeto por causa de particularidades doentias e por conveniências subjetivas e grupais.
Por sua vez, a estrutura formativa precisa se abrir para acolher os jovens como estão chegando à comunidade. Não adiantam estruturas pesadas, sem diálogo e sem liberdade para a partilha da vida e da missão. O processo formativo deve ser aberto para que todos se sintam acolhidos e possam ter liberdade de dar-se a conhecer e conhecer a Congregação em profundidade.
O carisma pessoal, que cada qual já tem, desde suas raízes existenciais, precisa ser vivido, por uma motivação espiritual, quando isso é despertado pelo Espírito, numa comunidade de consagração. Com efeito, a VC é espaço de consagração comunitária. De reunião dos dons pessoais para que, juntos, possam provocar muito mais mudanças na realidade à luz do Evangelho. Por isso se exige uma renovação constante das estruturas institucionais e formativas para que o processo vocacional seja mais verdadeiro e possa provocar cada vez mais vocações autênticas. 
Após breve partilha dos participantes, alguns pontos foram comentados. Pessoas que não vivem a autenticidade pessoal não estão maduras para entrar num processo vocacional. Não se pode empurrar pra frente no processo pessoas que não têm transparência para o processo formativo. Sem transparência não há formação.
Quanto às vocações “adultas”, é preciso renovar o processo formativo para evitar atitudes infantilizadoras e um processo de formação sem maturidade e experiência da parte dos formadores. “Para espertos, é preciso esperto e meio”. Em relação a vocações adultas e vocações egressas, que trazem sérios complicadores para o processo vocacional, é preciso um grupo de formadores maduros, experientes e com olhar clínico sobre a formação. Formadores ingênuos e sem experiência não dão conta de acompanhar tais casos.
Um cuidado que precisa ser tomado no processo vocacional e formativo é com o modismo. Hoje se relativiza muito o essencial por causa dos modos de vida que vão surgindo e vão se impondo culturalmente. Tanto no que diz respeito às novas tecnologias como no relativo às formas de vida, deve-se tomar muito cuidado para que não se deixe de lado o fundamental e constitutivo da consagração para atender às necessidades pessoais e conveniências subjetivas de cada um.
Recordando palavras de Bento XVI no Brasil, em 2007, Padre Vitório comentou sobre o chamado que deve ser feito, mesmo quando não vemos objetivamente chances de ser aceito. Nosso chamado precisa ser pelo testemunho e por uma provocação que, partindo de atitudes concretas, interpela pessoalmente o jovem. A verdadeira fé tem difusão. Se não difundimos nossa fé não temos fé. Segundo o Papa, não adianta meras atitudes proselitistas. O proselitismo não leva para a fé, leva para as igrejas. O caminho da fé é o caminho do encantamento por Jesus através do testemunho dos discípulos. Esta tem que ser a atitude dos discípulos missionários animadores vocacionais. Não basta mais a institucionalização da fé, pois o cristianismo encarnado nas igrejas tornou-se muito institucional. Falta vida e testemunho eloquente. Falta o encantamento que supera todo rubricismo e toda burocracia. O encantamento que provoca e convoca.
Na parte da tarde, começou a apresentação dos trabalhos vocacionais de cada Província. A primeira apresentação foi feita pela Província do Rio de Janeiro (CM), que mostrou a organização do SAVV e suas atividades: a equipe central, composta por vários padres, um irmão e dois seminaristas, e a equipe dos animadores regionais, de acordo com as casas e obras da Província.  25 jovens sendo acompanhados. Contato por email e carta, visitas, envio de materiais e subsídios vocacionais. Acompanhamento vocacional junto à Família Vicentina e para os vários Ramos da Família. Participação no GRAVO (Grupo de Reflexão de Animadores Vocacionais da Conferência dos Religiosos do Brasil, regional Belo Horizonte) e em suas promoções, como momentos de formação e animação vocacional intercongregacional. Incremento do site da Província, com maior clareza da proposta vocacional da Congregação. Desafios apresentados: vocacionados egressos (“rodízio vocacional”), vocações adultas, falta de roteiros e celebrações vocacionais, que ajudem na “vocacionalização” da Província, partilha do acompanhamento vocacional pela equipe, remodelação do estágio vocacional.
A segunda apresentação foi feita pela Província da Amazônia (FC). No que se refere à formação, houve cursos de capacitação sobre o carisma, os desafios da realidade e formação psicológica. Há parceria com movimentos eclesiais e com a Família Vicentina (em especial, Congregação da Missão e Juventude Marial Vicentina). Tem-se intensificado o processo de formação da equipe e das animadoras regionais, com várias atividades formativas, com a Escola de Formação Vocacional, em Fortaleza-CE. No que se refere à missionariedade, busca-se maior sensibilidade diante dos pobres e dos desafios da missão. Presença das postulantes e Irmãs em Missões Populares e encontros em regiões mais exigentes de missões. Houve um processo avaliativo em todas as Comunidades, em vista da urgência de se criar um planejamento estratégico para o SAVV. Esta avaliação consistia na definição da missão e dos valores do SAVV, identificação dos nós críticos, levantamento da problemática, definição dos cenários otimistas, pessimistas e realistas em relação ao SAVV, definição dos fatores favoráveis e desfavoráveis, definição dos pontos fortes e dos pontos fracos e, finalmente, a análise, a partir das seguintes equações: fatores favoráveis + pontos fortes = oportunidades; fatores desfavoráveis + pontos fracos = ameaças.
Em seguida, a Província do Rio de Janeiro (FC) apresentou seu trabalho: encontros de animadores regionais, confecção de subsídios, visitas às paróquias, presença junto da CRB, celebrações no ano jubilar, participação em cursos do Instituto de Pastoral Vocacional, do SIEV, grupos de orientação vocacional, visitas às famílias das vocacionadas, presença na Expocatólica (em São Paulo) e encontros regionais de vocacionadas em vista de um encontro provincial mais amadurecido. Desafios: apoio das comunidades locais, transferência das Irmãs, instabilidade dos jovens e desestruturação das famílias e questões trabalhistas.
As Províncias de Curitiba continuaram as apresentações. A Congregação da Missão começou mostrando uma sugestão para a logomarca do SAVV. No que se refere à formação, a Província tem buscado organizar, pelas casas canônicas, os animadores vocacionais regionais. Tem havido, sempre em parceira com as Irmãs e outros ramos da Família Vicentina, escolas vocacionais e encontros de formação para agentes leigos do SAVV. Presença nos cursos de formação do IPV e de outros Institutos. Encontros com jovens, adolescentes e crianças. Quanto à missionariedade do SAVV, presença nas celebrações de votos e ordenações, jubileu dos coirmãos e das obras, missões vocacionais, presença em paróquias, obras e escolas. Como prioridades, encontros vocacionais regionais e maior uso dos meios de comunicação. Como atividades estratégicas, planejamento provincial, comunicação, equipe de animadores regionais, datas e celebrações especiais, encontros e retiros vocacionais, encontros com coroinhas e crismandos, missões, grupos de convivência de vocacionados.
Em continuidade, as Filhas da Caridade continuaram a apresentação de Curitiba. Salientou-se a mútua colaboração entre os ramos da Família, como o Projeto Reavivar a Chama, de 2010, ligado ao jubileu dos 350 anos. A Província está dividida em oito regionais. Houve, em 2010, algumas atividades regionais e locais. Destacou-se a movimentação feita, durante o jubileu, nos colégios e escolas, em vista da divulgação e conscientização a respeito do carisma. Realização de encontros vocacionais mistos. Para 2011, a Província criou um projeto, chamado Ano Vocacional Vicentino, para comemorar os 40 anos deste formato de organização dos trabalhos vocacionais. Um de seus objetivos é intensificar a cultura vocacional na Província. Para tanto, foi feito um kit vocacional, com vários itens, como subsídios vocacionais, velas, canetas, propagandas, balas, folders, DVD e outros instrumentos e meios de divulgação da Companhia.
A apresentação continuou com a Província de Belo Horizonte (FC). A Província tem uma equipe central e uma animadora em cada uma de suas comunidades, que são organizadas em sete regiões. Houve muitas atividades por ocasião do jubileu dos 350 anos e dos 40 anos da Província, tanto em nível provincial como local. Criou-se o Projeto Resgatando Memória, com o objetivo de garantir uma vida saudável, buscando na Palavra de Deus, a luz e a força para viver a coerência com a vocação. Baseia-se na vida e na coragem dos Fundadores em responder aos apelos do seu tempo e na exigência de dar respostas atuais no momento presente. O projeto tem como finalidade desenvolver a vida fraterna e aprofundar o espírito de pertença. Uma lamparina, tomada como símbolo de revigoramento vocacional na Província, passou por todas as casas, durante quase um ano.
Depois, foi a vez da Província de Fortaleza (FC) apresentar suas atividades. No que se refere à formação, há a Escola Vicentina para Animadores Vocacionais, com o objetivo de capacitar animadores, possibilitar formação humana, sensibilizar os ramos da Família e oferecer formação adequada. Quanto à missionariedade, houve comemorações no ano jubilar e missões vicentinas. Sobre a metodologia, buscou-se fazer encontros vocacionais mais amplos, não apenas centrados nas vocações específicas. Encontros de despertar, feiras e shows vocacionais. Encontros de opção de vida.
Por fim, a Província de Recife (FC) apresentou seus trabalhos, realizados pela equipe provincial e pelas animadoras regionais, além das animadoras locais. Há produção de materiais vocacionais e subsídios, como o guia de orientação para o SAVV. Suas prioridades são a formação das Irmãs e a capacitação das jovens para a missão vicentina. Há encontros de formação de animadoras vocacionais e cursos de capacitação em vários Institutos, na CRB e na Família Vicentina. Encontros com pastorais e movimentos, com a JMV e outros ramos da Família. Na dimensão missionária, criou-se o Projeto Celebrar é Partilhar, com o objetivo da difusão e fidelidade ao carisma vicentino. Peregrinação das relíquias da Beata Irmã Lindalva. Missões populares. Tríduos vocacionais, por ocasião de ordenações, votos e jubileus. Vigílias e horas santas vocacionais. Plantão vocacional em escolas e paróquias. Avivamento vicentino com participação de muitos movimentos. Sobre a metodologia, busca de capacitação das Irmãs, presença em paróquias e acompanhamento vocacional. Como atividades estratégicas, revisão do projeto anual, visita aos regionais, encontros mensais, jornadas vocacionais, missões e encontros.


Terceiro dia, 06 de Maio, sexta-feira
Nosso terceiro dia de encontro começou com a Celebração Eucarística, presidida pelo Padre Edilson Kaspchak, C.M. Depois de elevar nossos louvores ao Senhor, Deus da vida e da vocação, que continua nos chamando e convocando à fidelidade, começamos nossa “peregrinação”.
Alegres e como verdadeira família que somos, pegamos a estrada rumo a Mariana, a primeira cidade de Minas Gerais. Assim como o Santuário do Caraça, que é a primeira casa vicentina do Brasil, aonde chegaram os primeiros Padres da Missão, Padre Leandro e Padre Viçoso, em 1820, também Mariana tem seu lugar neste espaço místico de origens, pois foi a primeira cidade onde as Filhas da Caridade iniciaram suas obras em terras brasileiras. Chamadas pelo já bispo Dom Viçoso, em 1849 as Filhas da Caridade chegaram às montanhas centrais de Minas Gerais, encabeçadas pela célebre Irmã Dubost, F.C. Da obra primitiva, feita sob o auspício do Santo Bispo Missionário, restam partes da casa antiga das Irmãs, transformada em museu, do antigo hospital (hoje hotel) e do Colégio Providência, com mais de 160 anos de tradição.
Nosso grupo, com infinita animação, começou seu tour por Mariana visitando a Catedral, cuja construção começou ainda no século XVII. Ali, em clima de reverência à cultura mineira e à arte universal, a comitiva do Interprovincial pôde contemplar um concerto no célebre órgão Arp Schnitger da Catedral, único, dos 30 existentes, fora da Europa.
Após a apresentação, alguns tivemos a oportunidade de visitar a cripta da Catedral, onde estão enterrados os bispos de Mariana e, aos pés dos túmulos de Dom Luciano Mendes de Almeida, S.J., e Dom Antônio Ferreira Viçoso, C.M., deixamos nossas preces.
Em seguida, caminhamos para o Colégio Providência, Casa-Mãe da Companhia no Brasil, onde as Filhas da Caridade estão desde 1849. Depois do almoço, participamos de uma belíssima apresentação de teatro e balé, feita por alunos e professores do Colégio. Em espírito de fraternidade, vivenciando cultura e espiritualidade, contemplamos, inspirados no símbolo da lamparina, nossas Províncias e o Brasil de ontem e de hoje.

Do salão de convenções, fomos para a Vila das Origens, o Museu da Providência, que guarda, no espaço ocupado pelas primeiras Irmãs, seus utensílios de uso diário, de serviço, da vida da Comunidade, livros, objetos religiosos e muitas obras de arte trazidas para o Brasil em 1849 e nos anos seguintes. Além disso, tivemos, na capela da Casa, dedicada a Nossa Senhora da Encarnação, uma excelente apresentação do museu e da história da chegada das Irmãs, feita pela Irmã Eponina da Conceição Pereira, F.C.







 Indo ao encontro das origens, nosso coração não deixou de enternecer e de dilatar em desejo de fidelidade e de consagração. Vendo a realidade da vida das primeiras Irmãs e escutando sobre todo o bem que realizaram, tanto no serviço direto aos pobres, em suas casas e no hospital, quanto no Colégio Providência, pioneiro em Minas Gerais na educação de meninas, nosso entusiasmo e nosso espírito de pertença à Família Vicentina se intensificaram.
De volta à casa de encontro, em Belo Horizonte, após o jantar, o merecido descanso foi aos poucos ocupando o espaço da prosa amiga e da partilha fraterna, atitudes que imperam em nosso meio desde o primeiro dia. Abençoados pela memória daqueles que nos antecederam e revigorados em nosso entusiasmo, nossa prece nesta noite não pôde ser outra a não ser: Deo gratias!


Quarto dia, 07 de Maio, sábado

Nosso dia, após o merecido descanso da noite, começou com a Celebração da Eucaristia, presidida pelo Padre Jânio José da Silva Pereira, C.M. Durante a missa, entramos em especial comunhão com alguns povos indígenas da Amazônia, onde nossas Irmãs trabalham, escutando suas músicas e contemplando os frutos da terra que eles cultivam.
Os trabalhos da manhã foram confiados ao Fráter Henrique Cristiano José Matos, dos Fráteres de Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia, uma congregação holandesa de Irmãos inspirada também em São Vicente de Paulo, há mais de 50 anos no Brasil. Sua conferência teve por tema: “Carisma Vicentino como fonte de esperança para o discipulado missionário na realidade hoje”.
Fazendo sua apresentação, remontou ao contexto dos anos 40, quando nasceu, e das décadas subsequentes. Comentou sua vinda para o Brasil, como jovem professo, e sobre sua dedicação quase exclusiva à educação e à formação, ao longo de seus 50 anos de votos. Falando de sua Congregação, comentou sobre a contribuição dada à Família Vicentina, especialmente no que significa à leitura de São Vicente de Paulo pela ótica da misericórdia.
 Tudo está centralizado na pessoa de Jesus, que chama ao seguimento. Por isso, o primeiro ponto de sua fala foi sobre a primazia da formação espiritual. Para o Fráter, espiritualidade é a experiência de Deus Pai no Espírito, vivida no seguimento a Jesus, inserido na comunidade eclesial, com uma missão evangelizadora. Esta espiritualidade, para ser vivida, só pode sê-lo a partir da mística e da ascese, palavras que atualmente saíram do vocabulário da formação inicial e permanente.
Espiritualidade é experiência. É conhecer, sob todos os aspectos, envolver-se e assimilar. Espiritualidade cristã se refere intimamente à experiência íntima de Deus como Pai. E Jesus é aquele que revela o Pai. Pela sua ação ele nos conduz e revela o Pai. Em Jesus apalpamos o Pai e o vemos. Neste sentido, o cristianismo não é cristocêntrico. É patricêntrico, pois o próprio Jesus disse que não veio para se revelar, mas revelar o Pai. O Espírito é a força que unifica esta revelação e plenifica a manifestação do Pai em Jesus.
A dimensão da experiência é fundamental na formação. Não se pode formar apenas intelectualmente ou para as obras. É preciso cultivar aquilo que nos entusiasma interiormente. Os formandos precisam conservar e amadurecer a unidade entre os estudos, fé e cultura, ciência e piedade. São Vicente diz que a formação exige formação da vida interior, na oração e no cultivo do recolhimento e da união com Deus.
Esta experiência deve ser feita no seguimento de Cristo, olhando fixamente para Jesus. Mas não só para seus olhos. Para o Cristo todo, sem privilegiar elementos da prática de Jesus, mas olhando e se fixando no Cristo total, em toda sua força transformadora e formadora da humanidade. Consequentemente, este caminho de seguimento deve ser feito em comunidade. Ninguém pode ser referência de si mesmo. A cultura atual centraliza-se no indivíduo. Jesus, ao contrário, convoca para a comunidade.
Por outro lado, a vida em comunidade exige eu ser eu, mas eu não me centralizar nem me perder. A vida comum, de partilha fraterna, também não pode destruir as particularidades de cada um e os dons pessoais. Seguimento, por sua vez, feito numa comunidade missionária, em vista de uma missão evangelizadora no mundo.
Eis um itinerário transformante da pessoa. A partir disso se deve trilhar um caminho alternativo de seguimento a Jesus no mundo. Precisamos encontrar formas de vida alternativa. Consequentemente, quem faz esta opção começa a renunciar o supérfluo. Passa por transformações internas que transbordam em atitudes simples, mas concretamente condizentes com a opção feita.
Mística é uma força interior que nos empurra, irrupção da graça trinitária que nos convida à comunhão de vida. A mística pode ser entendida como experiência de ser amado e impelido por Deus. Uma experiência da graça que nos amou primeiro. Agora, ao ser humano, cabe não colocar obstáculos à graça. É a ascese. É preciso abertura radical para acolher a graça de Deus e deixá-la nos transformar. Ascese é vida austera, não centrada sobre si mesmo, sobre suas próprias conveniências subjetivas.
Formação é vir-a-ser, através de um perseverante processo de conversão e de configuração a Jesus. A centralidade do seguimento de Jesus exige uma livre escolha pelo Mestre e uma experiência de vida que supõe acolhida e docilidade traduzida em relacionamento amoroso.
Para São Vicente, cada qual deve se conformar radicalmente à pessoa de Jesus e suas congregações devem agir segundo as máximas de Jesus e nunca segundo o mundo. Revestir-se do espírito de Cristo é condição de possibilidade do empreendimento missionário e, antes, da própria consagração. Daí a importância da lectio divina e da meditação ativa da Palavra de Deus, especialmente do Evangelho, como norma de vida pessoal e comunitária.
O Documento de Aparecida reafirma esta dimensão fundamental do seguimento: é preciso permanecer com Jesus e descobrir se é vontade de Deus a consagração. Não é o formando que quer algo, é Deus que quer dele. O discernimento não é sobre o que eu quero, mas sobre o que Deus quer de mim.
Os discípulos de Jesus não foram convocados para algo, mas para alguém, para vincular-se a alguém, assimilar sua mentalidade, seus sentimentos, sua opção de vida. Daqui deve brotar o apostolado, como passo segundo desta opção existencial. Apostolado é manifestação da consagração a Deus. Por isso que, mesmo que as obras sejam fechadas, a vida consagrada não desaparece. O que está desaparecendo no atual momento histórico é uma forma, um modo de vida consagrada. Não a vida consagrada propriamente dita. O carisma e o chamado de Deus estão para além das obras e das muitas atividades realizadas. Este é o testemunho da história da vida consagrada, desde os primórdios dos tempos monásticos. Mais do que obras, os consagrados ao longo da história marcaram seu tempo por sua vida e seu testemunho radical e eloquente de pertença a Deus.
Missão é o desdobramento natural e indispensável do seguimento de Jesus: testemunhar e anunciar o que se experimenta, como um imperativo do Espírito. Assim, ler os sinais dos tempos se faz obrigação. Isso é importante para se perceber o lugar histórico da presença de Deus e seus apelos no hoje. E, aqui, os pobres têm lugar especial. São sinal privilegiado dos tempos.
No Evangelho, aprendemos a sublime lição de ser pobres seguindo Jesus pobre. Colocar nossa certeza em Deus e não no prestígio de nossa tradição congregacional. É preciso fazer opção radical pelos pobres. Sua vida simples e sacrificada é um convite para uma vida consagrada mais simples. Esta intuição, São Vicente a teve com clareza. Os pobres estão no âmago de sua vocação e missão. Deles depende a definição de sua própria verdade e da identidade de suas fundações. 
 
Nesta perspectiva, Fráter Henrique mostrou preocupação com alguns comentários que tem escutado: a substituição da opção pelos pobres pela opção pela vida; a mudança do chamado a ser profeta para ser anunciador da esperança.
É preciso ter muita consciência de que a formação é um longo e progressivo processo de plenificação humana e cristã. Para tanto, é preciso ter as etapas da formação muito bem organizadas e com objetivos claros. E precisa ser dialético, em diálogo constante, ouvindo e ponderando mutuamente as questões.
Um grande desafio, hoje, no que diz respeito à formação humana, é a dimensão afetivo-sexual. A maturação psicoafetiva é uma construção progressiva, em que devem interagir a ação de Deus e a liberdade humana. Os formadores devem acompanhar os vocacionados de maneira muito diligente e atenta, para auxiliar nesta busca incessante de maturidade. A dimensão comunitária é outra exigência: num mundo individualista e fechado em si mesmo, é preciso ensinar a ser comunidades, ensinar a viver juntos.
Quanto à formação de discípulos missionários vicentinos, é preciso aplicação ao estudo e ao conhecimento aprofundado, afetivo e crítico de São Vicente, sua vida e obras. Formar para a solicitude com os pobres, a graça por excelência das comunidades vicentinas. Há um rompimento com conveniências subjetivas a partir de um dom empenhativo, cujo acolhimento se dá como missão. Na formação, é preciso buscar a radicalidade dos textos do Fundador, para que sua mensagem seja atualizada e o carisma permaneça vivo. 
Este carisma deve ser vivenciado na prática do amor misericordioso, que é o coração do Evangelho, a Boa Nova de vida. São Vicente propõe um itinerário de vivência da misericórdia. Tal itinerário passa pelas encostas dolorosas do mundo, onde a vida se encontra ferida e a dignidade humana vilipendiada.
Os vocacionados, para viverem a misericórdia, devem trilhar o caminho das virtudes vicentinas. Primeiramente, simplicidade. Transparência, ser como se é. De modo que os pobres nos escutem e nos compreendam. E simplicidade tem como irmã gêmea a humildade, daqueles que se colocam ao lado dos pequeninos e dos pobres. É também o alicerce da existência, pois nos dá clareza sobre quem somos e quem não somos. Outra virtude, a mortificação, leva a assumir com alegria todas as exigências dos trabalhos junto aos pobres, até mesmo dar a vida pelos irmãos. Mortificação é também ascese, saber privar-se, dominar-se. Encontrar seu lugar de consagrado num mundo em desequilíbrio. A mansidão, por sua vez, ganha os corações e nos aproxima dos pobres. É doçura e bondade. E ainda o zelo apostólico, a força impulsionadora da missão.
Desafios apresentados a partir da realidade: globalização e falta de solidariedade; deficiências da Igreja institucional; deficiências na formação do clero; ameaças à vida do ser humano e à vida do planeta; enfraquecimento da opção pelos pobres.
Após o almoço, passou-se à apresentação dos objetivos do Interprovincial e das linhas da ação.
Objetivo Geral: Partilhar e aprofundar o carisma de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac, à luz da Palavra de Deus, desenvolvendo uma cultura vocacional vicentina.

Objetivos Específicos:
1. Partilhar experiências pastorais para maior enriquecimento das atividades vocacionais nas Províncias;
2. Propor prioridades para o SAVV contemplando o itinerário vocacional (despertar, discernir, cultivar e acompanhar);
3. Aprofundar a vivência do carisma vicentino com estudos e reflexões, revigorando o elã discipular-missionário do SAVV;
4. Sintonizar o Serviço de Animação Vocacional Vicentino na Pastoral Orgânica da Igreja Local.
Após um dia intenso de trabalhos e reflexões, os participantes de nosso VI Interprovincial puderam fazer uma viagem cultural pelas várias regiões do Brasil. Desde o carimbó amazônico até a dança gaúcha, passando pelas danças, músicas e personagens nordestinos, todos contemplamos a riqueza dos vários Estados brasileiros e de sua gente. 

Quinto dia, 08 de Maio, domingo
O último dia de nosso Encontro começou com a Celebração Eucarística de envio. Iluminados pelo encontro do Senhor Ressuscitado com os discípulos missionários, nos dispomos a acertar os passos com o Mestre e com a humanidade, especialmente a juventude, conclamando-a para ser fazer discípula missionária de Jesus.
Ao final da Celebração, a Província de Belo Horizonte (FC) entregou a cada Província das Filhas da Caridade e da Congregação da Missão uma lamparina, para que a experiência vocacional feita pela Província pudesse ser partilhada com todas as demais Irmãs e Padres e Irmãos. Num verdadeiro entusiasmo missionário, todos recebemos o “archote da fé” para reacendê-lo em nossas Comunidades locais, espalhadas Brasil afora.

Em seguida, passou-se aos encaminhamentos, avaliação e votações necessárias para o futuro do Interprovincial do SAVV.
O primeiro deles foi a eleição do novo assessor do Interprovincial, para substituir o Padre Geraldo Ferreira Barbosa, C.M., que há seis anos ocupa este ofício. Foram eleitos, em segundo escrutínio, o Padre Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C.M., da Província do Rio de Janeiro, e como suplente a Irmã Maria Luiza de Andrade. F.C., da Província de Belo Horizonte.
O VII Interprovincial do Serviço de Animação Vocacional Vicentino será em Fortaleza, no segundo semestre de 2014. 
 

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