Não se concebe descrever ou narrar a vida e obra de Antônio Frederico Ozanam sem evocar a Ir. Rosalie Rendu, já que sua colaboração foi imensa no serviço aos Pobres.
A providencial amizade e colaboração entre eles marca a história da Caridade no século XIX.
A Caridade
A Ir. Rosalie Rendu ficou conhecida como a “Mãe dos Pobres” do bairro Mouffetard em Paris.
Nascida em 09 de setembro de 1786 em Confort, na região de Gex, Joana Maria Rendu chegou em 25 de maio de 1802 na casa das Irmãs Filhas da Caridade em Paris e muda seu nome para Rosalie. Ao terminar o seu noviciado, por conta de sua saúde, foi destinada ao bairro Mouffetard, periferia de Paris, um bairro pobre e de má fama. Desde o primeiro dia a Ir. Rosalie Rendu teve a intuição do Pobre e a inteligência da Caridade.
Seu gênio “pelo bem” fez com que jamais improvisasse seu trabalho pelos Pobres. Procurava e encontrava solução para todos os problemas da miséria.
Era de uma personalidade que não se cansava e multiplicava as horas e jornadas de atividades.
Embora ainda jovem, em 1815 tornou-se superiora da Obra. O povo vai conhecendo prontamente seus cuidados na enfermidade, daquela que sabia estar presente em todos os seus problemas. Até os mais hostis a saudavam e reconheciam seu trabalho.
Encontro com a Conferência de Caridade
A Ir. Rosalie tornou-se a grande conselheira de todos os amigos dos Pobres. Quando em 1833, Frederico Ozanam e seus amigos tiveram a ideia de fundar a Conferência de São Vicente de Paulo, foram até a Ir. Rosalie Rendu para pedir ajuda e apoio.
Ela compartilhou o pão e a maneira de servi-lo!
Quando Emanuel Bailly, presidente da Conferência, teve um filho, pôs o nome de Vicente de Paulo, por sugestão de Ir. Rosalie, vindo a ser depois o Pe. Bailly e fundador do jornal “La Croix”.
A Ir. Rosalie Rendu abriu em seguida um pensionato para os jovens trabalhadores, uma creche para as crianças das mulheres que tinham ocupações fora de casa, um asilo para os idosos, um “ministério da caridade” e demais obras...
Era comum encontrar membros do clero que iam até ela em busca de um conselho, ao lado de vulneráveis que buscavam socorro. Muitas personalidades da época frequentaram suas obras: Carlos X, Rainha Amélia, General Cavegnac, Napoleão III, Imperatriz Eugenia....
O amor que vence o ódio
Ir. Rosalie Rendu não defendia as revoluções, pois elas custavam demasiadamente “caro” para o povo e para os Pobres. Quando não tinha como deter a insurreição liberal , ela permanecia nas ruas. O bairro Mouffetard estava orgulhoso dela que muitas vezes sua voz foi ouvida, inclusive naqueles momentos nos quais a multidão não escutava ninguém.
Em 1830 ela favoreceu a fuga de muitos adversários do governo. Devido a uma reincidência o chefe de polícia deu a ordem de prisão. Esta ordem provocou uma agitação em todo o subúrbio, chegando ao ponto da população se armar para que ela não fosse presa. As autoridades tiveram que revogar a ordem.
Em junho de 1848, a Ir. Rosalie Rendu fez cessar fogo em plena batalha. Ela queria evitar que mais viúvas e crianças órfãs aumentassem. Ela chegou a dizer aos combatentes: “Como posso querer viver quando meus filhos são assassinados?”.
Outro episódio de coragem desta irmã envolve um oficial que busca refúgio em sua casa. Os amotinados o perseguiram e apontaram o fuzil.
“Não irão matá-lo”, gritou a Ir. Rosalie. Quando estavam prestes a atirar nele ela novamente esbravejou: “Faz 50 anos que consagrei minha vida por vocês; por tudo aquilo que foi feito por vossas mulheres e vossos filhos, eu vos peço a vida deste homem”.
Perante estas palavras aqueles motinados estremeceram de emoção e de admiração pela coragem daquela Irmã. O oficial estava salvo.
Mãe do povo. Mãe dos Pobres.
Ela faleceu em 07 de fevereiro de 1856. Quando a notícia se propagou por Paris, a comoção foi geral. Todo o subúrbio de Paris foi homenagear aquela que havia sido uma mãe para eles.
No dia do funeral o bairro inteiro seguiu o féretro. Os comércios fecharam... e a grande maioria não conseguiu entrar na Igreja de São Medardo. Porém depois todos seguiram o cortejo até o cemitério de Montparnasse.
Uma cruz de pedra branca indica onde ela foi sepultada. Depois de mais de cem anos segue crescente a atenção daqueles que não esquecem que os destinos de Frederico Ozanam e Ir. Rosalie Rendu se estreitaram no amor aos Pobres, criando fortíssimos vínculos entre a Sociedade de São Vicente de Paulo e a Companhia das Irmãs Filhas da Caridade.
Beatificação e processo de canonização.
Antônio Frederico Ozanam foi beatificado em 22 de agosto de 1997. A Ir. Rosalie Rendu foi beatificada em 09 de Novembro de 2003.
As Filhas da Caridade e a SSVP estão considerando a possibilidade de unir os processos de canonização da Bem aventurada Rosalie Rendu e do Bem aventurado Frederico Ozanam. Aconteceu uma primeira reunião no último dia 08 de março de 2012 em Paris com este propósito.
Continuemos rezando e pedindo pela canonização destes dois modelos de vida de caridade e amor pelos Pobres.
Fonte: Autor desconhecido. Produção original no ano de 1983 no boletim JUSTICIA E CARIDAD. Traduzido do Espanhol para o portugues por Joelson C. Sotem, CM com observações e acréscimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário